data-filename="retriever" style="width: 100%;">A crise sanitária que vivenciamos traz várias consequências. Tem as consequências individuais para aqueles que foram diretamente atingidos e experimentaram a perda de uma pessoa amada. E foram muitas, não se limitando aos 500 e tantos mil mortos. Esse número deve ser multiplicado por cinco, o que resulta em 2 milhões e 500 mil atingidos diretamente.
Essa consequência, parece, foi a mais dolorosa, ainda que pareça um número menos expressivo, tomando-se como base os 230 milhões de brasileiros que habitam neste país. A morte, todavia, é irreversível, irrecuperável, mais ainda quando chega antes da hora e poderia ser evitada. Outra das várias consequências é a econômica, sendo imprevisível a recuperação aos níveis desejados. Mas essa consequência tem conserto. Pode levar algum tempo, mas, com competência de gestão, podemos retomar. Entretanto, um prejuízo que herdaremos da pandemia, em proporção gigantescas e de difícil ou impossível recuperação, sem a menor dúvida, é com a educação.
Mais agravada ainda porque, há tempo, já tinha problemas, a nossa economia, talvez em proporções mais acentuadas. Os vários governos que se sucederam não deram a atenção que a educação das nossas crianças e jovens mereciam. O resultado disso é a qualidade do ensino oferecido e a falta de investimentos necessários, tanto material como intelectual. Vínhamos nos arrastando a cada ano e piorando a qualidade do ensino. Por consequência, o despreparo da nossa clientela estudantil e dos profissionais é apenas reflexo de tudo isso. Veio a pandemia e, há quase dois anos, não educamos ninguém.
Crianças em idade inicial de escola, há quase dois anos, ainda não iniciaram o processo de alfabetização. Exceção são algumas escolas particulares. Para um sistema educacional presencial, que já era precário por todos os motivos declinados, substituíram pelo sistema remoto em que, se prometeu, as aulas seriam a distância, individual e pela internet. Ninguém desconhece que mesmo quem tem condições de contratar uma operadora, servidor e o melhor serviço "oferecido" enfrenta problemas de conexão.
Falo de locais onde existem sinais porque isso, em alguns lugares, é raridade. Para quem não tem acesso a esse tipo de comunicação, algumas escolas ofereceram tarefas através de polígrafos, entregues aos alunos, uma vez por mês. Cada um faz o que lhe é possível. Quase nada. Sem acompanhamento de qualquer espécie porque os pais nem sempre podem ajudar; ou porque não têm tempo ou porque não estão preparados para a tarefa educacional. O resultado é o abandono intelectual a que ficam submetidos. Sem contar que, para o ensino remoto, via internet, a maioria das famílias que depende de escola pública não dispõe de internet ou equipamento para se conectar.
Já estamos assim há quase dois anos e, pelo visto, ainda teremos, no mínimo, mais um ano de crise sanitária. Assim, para a educação, mesmo a precária como já se apresentava, estamos perdendo uma década, porque retomar o curso normal não basta uma ordem para o início e tudo estará resolvido. Não. É preciso uma readaptação.
Além disso, as mudanças de rotina que ocorreram em suas rotinas e na vida dos pais irão novamente se transformar. Para isso, vai se precisar de uma nova adaptação. Se foi difícil estarem todos em casa, mudar a rotina novamente, e se ausentar da segurança que o lar representa, pode também gerar alguns impactos. Todo um período de readaptação à escola e de afastamento dos pais terá que ser novamente reinventado. Uma nova motivação. Uma nova forma de viver.
Não é sem razão que já se noticia uma evasão escolar no Ensino Médio na ordem de 40%. De quanto será essa evasão ao final? Não investimos em educação em nenhuma de suas carências. Congelamos os salários dos professores. Não efetuamos a manutenção dos prédios das escolas. Não oferecemos material didático adequado. Investimos muito pouco em educação de uma forma geral.
O Chile gasta por aluno/ano US$ 7.706. A Argentina, US$ 5.680 e nós US$ 4.500 (https://querobolsa.com.br/revista/paises- -que-mais-investem-em-educacao-veja-a- -situacao-do-brasil). Estamos muito longe de priorizarmos a educação e os reflexos disso serão sentidos nos próximos 20 anos, pelo menos. Não se retoma o nível desejado de uma hora para outra. Devem convergir vários fatores no mesmo sentido para iniciar uma retomada pela educação.
Desnecessário acentuar que não há outro caminho para a liberdade e para a democracia fora da educação. Vamos reconhecer. Estamos longe de iniciarmos essa caminhada à libertação. A par de tudo isso, a pandemia se atravessou no nosso caminho para aumentar o atraso. Como ser otimista se, somado a tudo isso, o nosso governo não gosta de educação, em todos os sentidos? Não gosta de ciência, nem de pesquisa científica; não gosta de cultura, nem de intelectuais. Artes, nem pensar. Estamos fadados ao atraso intelectual e nossos futuros profissionais e cientistas não mais serão protagonistas do progresso e desenvolvimento, mas do atraso por falta de preparo.